27 de out. de 2010

Por que eu amamento?


Sempre achei que amamentar era importante. Eu fui amamentada, vi minhas irmãs amamentarem e, quando chegou a minha vez, ou melhor, a vez do meu filho, eu fiz questão de amamentar. Théo mamou desde o primeiro dia de vida. Durante os seis primeiros meses cumpri à risca o ritual da amamentação exclusiva e em livre demanda e construí, com isso, uma relação de amor e cumplicidade com meu filho, além da enorme contribuição do meu leite para a sua saúde. Mas eu não vou mentir, amamentar é lindo, mas é difícil. Dói, requer disposição, disponibilidade e muita fé no seu leite.
Aliás, eu sempre tive a convicção de que o meu leite era o melhor alimento do mundo para o meu filho, embora muita gente tenha tentado me convencer do contrário: médicos, familiares, amigos, desconhecidos (além da Nestlé, que volta e meia ‘tenta’ me convencer de que o leite dela é melhor do que o meu. Não é mesmo! E cá entre nós, a frutinha amassada e o arroz com feijão que eu faço, também são muito superiores aos que ela oferece em práticos potinhos!).
Qualquer pessoa que tenha interesse pelo tema e que vá atrás de um pouquinho de informação a respeito vai ver que o leite materno é o alimento mais completo para os nossos filhos. Existem estudos que começam a relacionar o surgimento, cada vez mais freqüente, de doenças crônicas como hipertensão e diabetes à falta de amamentação. Além dos óbvios problemas de saúde que a não-amamentação pode acarretar, estudiosos discutem o impacto que sua falta pode trazer à espécie humana a longo-prazo, inclusive do ponto de vista evolutivo. E isso faz todo sentido, afinal, por mais “racionais” que sejamos, ainda fazemos parte do Reino Animal (Homo sapiens, pertencentes à Classe dos Primatas, Ordem dos Mamíferos) e estamos sujeitos às mesmas modificações que os demais seres vivos.
Nosso corpo foi preparado para parir e para amamentar e, por conseguinte, para receber o leite materno como alimento fundamental para a nossa formação.  No entanto, a nossa sociedade não tem uma cultura de amamentação. É raro ver uma mulher em local público, com seu peito de fora, confortável em amamentar seu filho. Amamentar é ótimo, desde que seja escondido e, de preferência, que se dê o peito apenas a um recém-nascido. Se o filho ou filha tem mais de seis meses e ainda mama, logo alguém virá dizer: essa criança ainda mama? Isso quando não lhe sugerem dar um complemento porque o leite materno é fraco. Outro absurdo. Não existe leite fraco, pouco leite, leite que não sustenta e leite que não desce. Existe médico que não incentiva e não encoraja a amamentação e mulher (ou família) mal informada, pouco disponível e pouco preparada para tal. Afinal, sendo bem franca, amamentar é dor e delícia ao mesmo tempo!

O Théo sempre mamou. Até os seis meses, exclusivamente. Assim que começou a comer, passamos a revezar amamentação com alimentação, tranquilamente. A partir de um ano, o “mamá” passou a ser reservado apenas para os momentos de sono e assim chegamos até aqui. Há cerca de um mês eu viajei e avisei o meu filho de que ele ficaria uma semana sem mamar. Ele ficou ótimo, sem crises, em paz, numa boa. Eu disse a ele que, se ele não quisesse mais, ele não precisaria voltar a mamar. Mas quando nos reencontramos, esse foi o primeiro pedido que ele me fez, e eu o atendi, sem culpas, sem crises.
Agora estou me preparando para levar a amamentação até o Théo completar dois anos. Por que tanto tempo? Porque se você pegar qualquer caixa de leite longa vida ou lata de leite em pó, vai ver uma advertência do Ministério da Saúde recomendando amamentação por até, pelo menos, dois anos de vida. A Sociedade Brasileira de Pediatria e a Organização Mundial da Saúde assinam embaixo dessa recomendação. Esse time de especialistas e estudiosos sobre amamentação não recomendar isso à toa, não é mesmo? E continuo amamentando não apenas porque eu gosto, mas porque o meu leite ainda contribui para a nutrição e o fortalecimento da imunidade do meu filho.
Eu poderia seguir amamentando por mais tempo e muitas mulheres, bravamente o fazem (se quiser ler mais sobre isso, acesse http://matrice.wordpress.com). Essas mulheres merecem a minha admiração. Eu já pensei e repensei sobre isso inúmeras vezes. E cheguei à conclusão de que dois anos será o nosso tempo. Acho que escrever esse texto, de alguma maneira, faz parte de um ritual, de começar a me desligar da delícia que é amamentar.
Há alguns minutos, enquanto amamentava o meu filho, esse texto me veio como uma necessidade. Sentei aqui para escrevê-lo com uma intensidade que eu não pude controlar. Eu me devia isso. Há tempos venho querendo falar deste tema para outras mulheres, amigas, pais, mães, futuras mães e não-mães convictas. Quero, definitivamente, levantar a bandeira do parto e da amamentação como um dos grandes temas da minha militância ( junto com a pauta da conservação ambiental). E eu espero que a minha experiência e o pouquinho que eu aprendi desde que o Théo chegou na minha vida possam incentivar e sensibilizar outras mulheres a encarar o desafio da amamentação como algo primordial na relação mãe-filho.
 
Théo mamando, com 1 dia de vida.






Aos cinco meses, pausa para mamar, no Parque Lage

25 de out. de 2010

Cadê o bebê que estava aqui?

Eu hoje olhei para o Théo e me perguntei: Cadê o meu bebê?
Esse bebê já é um menino que come sozinho, fala frases, cantarola, nos imita, dá beijinho e chuta a bola com uma precisão de deixar muito marmanjo de boca aberta.
Ai, ai, o meu menino...












15 de out. de 2010

Historinha sobre uma viagem

Há alguns meses eu e Glauber resolvemos viajar de férias, sem o Théo. No começo eu fiquei em dúvida em relação a viajar com ou sem o Théo, mas depois achei que seria ótimo tirar uns dias de descanso e de namoro com o Glauber... E também ficava imaginando como seria ficar alguns dias longe do Théo, sem cumprir aquele ritual materno diário e sem receber o olhar pro colorido do meu filho, sorrindo pra mim.

Quando a data da viagem se aproximou, me pus a conversar com o Théo sobre a nossa separação temporária, disse que estava tranqüila e segura de que ele ficaria bem, que ele poderia ficar em paz que eu também estaria. Como o Théo ainda mama no peito, fiz um trato com ele. Eu disse que ele ficaria sem mamar aqueles dias, e que quando eu voltasse, se ele não quisesse mais, ele não precisaria mamar, mas, se acaso ele quisesse, o meu peito estaria à disposição dele, tão logo ele me pedisse.

No dia da viagem eu dei uma longa mamada para o Théo, me despedi do meu filho confiante de que ele ficaria bem, enfaixei os peitos (por recomendação médica), peguei nas mãos do meu Glauber e fomos embora. O Théo ficou com a vovó e a prima em casa. No dia seguinte, aterrisados na nossa cidade de destino, telefonamos para a casa e soubemos que o Théo havia passado a noite super bem. 

A cada telefonema, mais uma razão pra eu me sentir orgulhosa pela generosidade do meu filho: ele sabia o quanto aquelas férias nos fariam bem e ficou numa boa, em paz, tranqüilo, seguro. Ele se sabia amado por nós dois, se sentia acolhido por aquelas que ficaram com eles e no fundo sinto que ele começou a nos mostrar que sabe se virar bem no mundo... Quando sentia saudades da mamãe e do papai, era amparado pelas nossas fotos nos porta-retratos, que ele mesmo pegava e beijava. No dia em que sentiu falta do peito para dormir, trocou o leite por chá de hortelã, se aninhou nos braços da prima e dormiu. Ao acordar era recepcionado pelo calor e pelo sorriso da vovó e assim começava os dias, com alegria.

Ao voltar pra casa, com o coração tranqüilo e o corpo descansado, recebi meu filho nos braços. Ele tinha acabado de acordar. Veio no meu colo e pediu: mamá. E eu dei. Além do compromisso que eu assumi com ele, nada mais justo do que retribuir a sua generosidade com um pouquinho do melhor que eu posso oferecer para ele: carinho, colo e um leite morninho (cheio de saúde) pra aplacar a saudade.

 selinho gostoso

 foto do que poderia ter sido a última mamada do Théo... rs

pausa para uma foto e um beijinho, em frente ao Teatro Colón, em Buenos Aires

 no Jardim Botânico, pausa para um descanso, um afago e alguns minutos de conversa a respeito da saudade do filho...