31 de mar. de 2009

Amigos

Roberto Lima

Em março de 2008, quando ainda conversávamos sobre ter ou não ter um filho/a, compartilhei com o Lima minhas dúvidas e inseguranças e recebi dele esse belo presente. Certamente o primeiro e dos mais sensíveis presentes que nossa pa/maternidade poderia ganhar.
obrigado, Lima.

"Eu sou uma pessoa com uma experiência muito específica nesse negócio de ser pai.

Nem lembro de como era a vida sem ter filho, criei Mariana como pai adolescente na casa da minha mãe e o Heitor nem sei se estou "criando" porque não convivo com ele o quanto eu preciso e gostaria. Tudo na minha experiência de pai não me autoriza a dar conselho.

Eu não dou conselho, mas como você sabe, prevejo o futuro.

Você vai ter dois filhos, vai ficar casado com a Erika pelo menos por uns 20 anos, ou pela vida toda, vai criá-los mais ou menos do jeito como você mesmo foi criado.

Cada personagem tem um destino, um demônio pessoal que te guia pela estrada, leia novamente o Livro de Tobias no Antigo testamento.

O que eu acho é que você não vai ser feliz se não tiver filhos, que você sabe que essa vidinha boa simplesmente vai ter que acabar, por que acaba, ninguém sabe bem porque, mas a vida gira e muda de sentido, se a gente fica apegado ao jeito como está vivendo hoje acaba se afundando junto quando acaba. Aquele demônio pessoal não admite ser questionado e ele não cruzou o teu caminho com o da Érika por acaso.

É indescritível o amor que a gente sente pelos bichinhos da gente. Não sei se é porque os genes ficam em polvorosa por finalmente estarem cumprindo o seu destino, ou se é porque estamos condicionados a sermos felizes por ter filhos, mas o fato é que é um amor incondicional e isso é insuperável. Amar sem condições. Quem não quer?

Parece que estamos diante de uma coisa absurdamente gigante e nova, como se nos lançássemos ao mar bravio, etc, etc, etc. não é assim, é mais fácil e muito prazeroso pode acreditar. Deixe a vida andar.

Abraço."

Lima

5 de mar. de 2009

Testamento

Carta ao meu revolucionário

Théo, receber você não está sendo uma experiência fácil. Ou melhor, preparar-nos para sua chegada não está sendo uma experiência simples. Enrolamos muitos anos para que isso acontecesse. Percorremos caminhos muito estranhos para que nos acontecêssemos. Alisamos muita farpa para que nossas mãos pudessem se oferecer a você, para que nosso colo pudesse ser seu, para que nosso olhar o olhasse em paz.
Mas hoje estamos aqui, de mãos dadas escolhendo as músicas para a sua chegada, ajeitando a casa para o seu conforto, pendurando a rede para o seu balançar.

Foram muitas as vezes que eu e sua mãe o chamamos de “revolucionário”. E o fizemos com a certeza de que estávamos corretos. Você já tem feito revoluções e transformado muitas coisas. Ainda não conhecemos sua carinha, seu temperamento, seus talentos, mas já sentimos nossa intimidade, já antevemos nossa cumplicidade. Você tem revolucionado nosso jeito de pensar, de sentir e de nos comunicar. E viver essa experiência é uma forma de gestação. Muitas vezes nos sentimos grávidos de nós mesmos, percebendo que não seremos mais os mesmos e que teremos de nos adaptar a esse novo “nós”, a esses novos “eus”.

Não sabemos e nem conseguimos imaginar quantas revoluções ainda virão. Não sabemos e nem conseguimos imaginar como será o seu primeiro choro, o cheiro do primeiro cocô ou a cor dos olhos de sua primeira namorada. Mas já imaginamos você cheio de idéias e opiniões, com rasgos de liderança e tranqüilidade no olhar. Já imaginamos muitas coisas do futuro: viagens em família, brincadeiras entre primos, muita comida na casa das avós, papo-cabeça com os vovôs, as tias babonas, os tios rabugentos, livros, música, futebol e jogo do Palmeiras.

Imaginamos nossas conversas na beira da cama ao cair da noite, brigas pelo controle remoto da TV (sei lá se isso vai existir) e saraus gastronômicos numa noite qualquer. É claro que também pensamos em momentos difíceis: os primeiros tombos, noites de hospital, choros noturnos, escola cara...

A vida é sempre uma emoção e o destino é sempre uma ironia.

As revoluções, meu filho, nem sempre nascem de atos grandiosos. Às vezes elas brotam dos acasos, de viagens emocionantes e de palitinhos de xixi com dois risquinhos. E nesses momentos devemos lembrar de Guimarães Rosa, em seu Grande Sertão: Veredas:
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim. Esquenta e esfria. Aperta e daí afrouxa. Sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”

Você nos trouxe a coragem, meu filho. Que ela traga consigo sabedoria, saúde e paz, e que sigamos juntos em alegria.

Seja bem-vindo!

do papai Glauber

4 de mar. de 2009

Sem contrato

A espera se constrói a cada passo
O desejo se desenha em cada ato
A coragem se inventa em arrebato
E a vida se renova sem contrato

do papai