5 de mar. de 2009

Testamento

Carta ao meu revolucionário

Théo, receber você não está sendo uma experiência fácil. Ou melhor, preparar-nos para sua chegada não está sendo uma experiência simples. Enrolamos muitos anos para que isso acontecesse. Percorremos caminhos muito estranhos para que nos acontecêssemos. Alisamos muita farpa para que nossas mãos pudessem se oferecer a você, para que nosso colo pudesse ser seu, para que nosso olhar o olhasse em paz.
Mas hoje estamos aqui, de mãos dadas escolhendo as músicas para a sua chegada, ajeitando a casa para o seu conforto, pendurando a rede para o seu balançar.

Foram muitas as vezes que eu e sua mãe o chamamos de “revolucionário”. E o fizemos com a certeza de que estávamos corretos. Você já tem feito revoluções e transformado muitas coisas. Ainda não conhecemos sua carinha, seu temperamento, seus talentos, mas já sentimos nossa intimidade, já antevemos nossa cumplicidade. Você tem revolucionado nosso jeito de pensar, de sentir e de nos comunicar. E viver essa experiência é uma forma de gestação. Muitas vezes nos sentimos grávidos de nós mesmos, percebendo que não seremos mais os mesmos e que teremos de nos adaptar a esse novo “nós”, a esses novos “eus”.

Não sabemos e nem conseguimos imaginar quantas revoluções ainda virão. Não sabemos e nem conseguimos imaginar como será o seu primeiro choro, o cheiro do primeiro cocô ou a cor dos olhos de sua primeira namorada. Mas já imaginamos você cheio de idéias e opiniões, com rasgos de liderança e tranqüilidade no olhar. Já imaginamos muitas coisas do futuro: viagens em família, brincadeiras entre primos, muita comida na casa das avós, papo-cabeça com os vovôs, as tias babonas, os tios rabugentos, livros, música, futebol e jogo do Palmeiras.

Imaginamos nossas conversas na beira da cama ao cair da noite, brigas pelo controle remoto da TV (sei lá se isso vai existir) e saraus gastronômicos numa noite qualquer. É claro que também pensamos em momentos difíceis: os primeiros tombos, noites de hospital, choros noturnos, escola cara...

A vida é sempre uma emoção e o destino é sempre uma ironia.

As revoluções, meu filho, nem sempre nascem de atos grandiosos. Às vezes elas brotam dos acasos, de viagens emocionantes e de palitinhos de xixi com dois risquinhos. E nesses momentos devemos lembrar de Guimarães Rosa, em seu Grande Sertão: Veredas:
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim. Esquenta e esfria. Aperta e daí afrouxa. Sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”

Você nos trouxe a coragem, meu filho. Que ela traga consigo sabedoria, saúde e paz, e que sigamos juntos em alegria.

Seja bem-vindo!

do papai Glauber

Um comentário:

  1. Anônimo16/4/09

    Simone e Luiz (Campo Grande)
    Erika e Glauber, admiramos a coragem e determinação de vcs pela chegada do Théo em casa...que benção. Desejamos tudo de melhor no mundo para o recém chegado. Curtam bastante essa fase em que ele ainda fica nos braços e no aconchego dos pais. Tudo de bom pra vcs, e ele é lindo!
    Beijão

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